Poesias de Alessandro Borges
Dia Ideal
Hoje é dia de contar as roseiras,
De brincar de esconde-esconde
De correr sobre os montes,
De fantasiar o horizonte.
De montar uma cabana no meio da selva,
Recitar os mais belos versos ao vento,
Madrugar contando estrelas,
Prosar na sexta-feira.
Tomar água na fonte,
Olhar o sertanejo
Dá bom dia às seringueiras,
Acordar de manhã cedo.
Hoje é dia de olhar bem dentro de teus olhos,
Venerando a pupila
Adentrando o cristalino,
Descendo os degraus do teu interior,
Despovoando os teus sentimentos,
Assumindo de uma vez o âmego do teu coração.
A solidão chora saudade
Sacrifícios não quero
Há mil anos te espero
O cansaço me Poe na dança,
O olhar se desfigura no final da tarde
A solidão chora constantemente a saudade.
Extravaso minha tristeza
Ao contemplar este céu de penúria,
Já gastei as solas dos sapatos
Por este trecho passo a passo,
Minhas vestes se desfizeram em pedaços.
Tudo está à vontade!
E eu conseqüentemente pela metade
Sem animo para revidar
Extraído demais para suportar,
Porém esperançoso demais para esperar.
Pois sei que ainda que os dias me envelheçam
A eternidade se desgaste
E tudo aconteça
O universo se esvazie,
Eu enlouqueça.
Na loucura de um débil
Serei sonhador,
Claro demais
A essa distância
Que faz a solidão chorar a saudade.
Imaculado
Jamais pensei que fosses crescer em meu peito
Com tanta destreza
Com tanto desvelo,
Com tanta precisão,
Com tanta clareza.
Vivo a cada dia uma linda emoção,
Uma canção de ninar,
Uma chama queimando no peito.
Como é feliz o coração!
A minha vida,
O meu ego,
A minha força
Vibra todas as vezes que a minha sensibilidade expressa o
tom desta cor.
Poesias de Armando Pompermaier
Dois sóis
Sereno é o sonho em teus braços
Suave o toque da tua pele nua
Alegre a tua imagem à primeira luz
ao amanhecer do dia
Triste a despedida
Em meu peito é sempre primavera
E os campos sempre floridos
À luz do sol do teu sorriso
À melodia do canto dos pássaros nas palavras
da tua voz doce
O jasmim dos teus abraços,
Casulos onde meus sentimentos tristes
Se metamorfoseiam em alegres e festivas
Borboletas
Que beijam as rosas dos teus lábios
Enquanto irrompem sóis
Do brilho dos meus olhos
Nem precisaria de asas para voar
O jardim das cores
Ser um homem que planta as cores
que florescem nos perfumes
que dilatam os amores
que nos afagam, que nos unem
As mãos que cultivam as flores
trazem essa beleza dentro de si
agradecem os cantores:
o beija-flor e o bem-te-vi
Quando tu vens, se tu sorrires
é que eu plantei um arco-íris
Rosas vermelhas e jasmins
em meio a todo um colorido sem fim,
trago em meu peito para ti:
abra os seus braços pra mim
Pássaros executam sua sinfonia
borboletas dançam seu balé
como é possível não sentir alegria
se tão bem meu bem me quer
Quando tu vens, se tu sorrires
é que eu plantei um arco-íris
Eu plantei um arco-íris de luz e cor
só pra dar pro meu amor
Armando Pompermaier
Buquê de estrelas
As flores
são estrelas que nascem do chão
no meu quintal nasceram estrelas
em um mar de palavras,
algumas são flores,
algumas são estrelas
em um mar de mulheres,
algumas são flores,
algumas são estrelas
a minha amada é as duas:
uma flor-estrela
vou catar estrelas do mar
de palavras
para dar um buquê
de estrelas
para a mulher que amo
como a expressão
do meu amor sincero
mas o verdadeiro presente
é o meu amor
mais bonito que todas as estrelas
do céu e da terra
Poesias de Beth Lins
Caminhos
Caminhos existem...
Cada passo, cada ato seguem...
Surge um mundo...
Magia, amor, prelúdios,
Tudo é possível,
O Amor caminha a cada instante,
Nada tão real como o próprio sentimento,
Distâncias, desamores...
Nada capaz de destruir os sonhos...
Surge uma vida,
Amor tão puro como o dia.
Caminhos existem...
Cada passo, cada ato seguem...
Lutas, vitórias,
Passados, presentes,
Incertezas, inverdades,
Nada tão profundo como o perdão.
Nasce uma luz
Tão brilhante que reflete e transforma,
O amor caminha lado a lado.
Caminhos existem...
Cada passo cada ato seguem...
Surge um novo amanhecer,
Transformações, sonhos...
Realidade.
Tudo é amor, tudo é vida,
Esperança, paz, felicidade.
Jully Joyce
Luz que a vida concebeu,
Brilhas como estrelas,
Pertences ao mundo
como o mundo te pertence
E estarás eternamente no coração
daqueles que te amam.
Poesias
Na busca... em espaços vazios me deparo com palavras,
São tantas que nem sei como usá-las,
Sentimentos propagam-se e percebo que tudo já está em mim,
Encontro em outros sentimentos alegres e sofridos elas... palavras que já são minhas, mesmos sem encontrá-las primeiro nos pertencemos, porque em cada sentimento preenche todos os meus anseios
que a minha voz calou.
Há! Sonhos, são tantos ainda por encontrá-los ... bastam as palavras que me transporto a eles, elas são mágicas,
mas porque não as disse primeiro!
E nessa sintonia em que a poesia me leva, com a mesma energia que no teu coração nasceu e ocupou o meu,
essas palavras que nos uniu podem ser minhas,
sou poeta e não sabia.
Poesias de Eva Martina Nagl
Debaixo da Mangueira
Você -
com galhos espalhados,
tuas folhas cheias dão
sombra no
calor, calor, calor.
Pássaros cantam
nos teus ramos,
as borboletas
com sua linda coloração
esvoaçam, esvoaçam, esvoaçam.
Exposto na tua frente:
O Rio Paracauary
marrom e barrento
os pescadores passam remando.
Debaixo da mangueira,
com pele molhada
do banho refrescante
frutas frescas,
beijos doces
e debaixo das tuas raízes –
a descida
pro rio, que hoje
levou um menino.
Crepúsculo Ararúna
O vento começou a resfriar
na pele,
nossas sombras se alongaram,
ele deixou de encher tudo –
o sol ardente
aproximou-se ao horizonte.
As nuvens transparentes do dia
começaram a destacar-se
de roxo, amarelo
e alguns de cinza –
na frente do sol desaparecendo.
Há tempo ele se recolheu atrás
das arvores do Igarapé.
Só seus brilhos restaram na
superfície da água.
A lembrança do dia que passou.
Suavemente apareceu o desenho da lua
no céu sombrio.
Com calma ela aguarda
o desaparecer do sol poderoso
pra refletir só de longe
a luz dele em branco.
Todas elas
Chamou-me de diabo
Chamou-me de anjo
e
Chame-me de puta
Chame-me de santa
Sou a que grita e bate
A bruxa que maltrata.
Sou a que sorri e afirma
A princesa penteada.
Sou a que chora e suspira
A moça deixada.
Sou a que pula e canta
A mulher voadora.
Sou a que seduz,
a que se envergonha.
Sou a que bebe,
a que reza.
Sou todas elas,
como não sou nenhuma,
como só queria que fosse.
Chame-me como quiser
Chame-me do meu nome!
Talvez
Talvez
tenha saído tudo,
você sentando
esperando.
Com calma, mas insistente
puxa os pedaços pra fora
que estavam enterrados
bem no fundo,
barrentos e com lama,
podres e fedorentos.
Lanço-os pra fora,
vomito
entre nós.
Aliviada eu contemplo
com você paciente
o que nasceu disso:
Uma flor brotando
com cheiro de rosa.
Saudades da minha terra
Longo, longo
e cada vez mais longo
é o tempo que estou
longe, longe
e cada vez mais longe
da minha terra.
Onde o sol de verão
já se inclinou,
os capins dourados
já foram cortados
e as frutas colhidas.
As florestas verdes
já se coloriram
de amarelo e vermelho.
As pessoas bronzeadas
ainda sorridentes,
preparam-se para o ano
deitar-se no frio
do inverno.
Com saudades
lembro-me dos
cheiros confiados,
abraços familiares,
e risadas com amigos
dentro do meu coração.
Dê-me
Dê-me um sorriso,
que lhe dou uma risada.
Dê-me sua mão,
que lhe dou um abraço.
Dê-me sua atenção,
que lhe dou minha dedicação.
Dê-me um limão,
que lhe planto um pé.
Dê-me um caminho,
que lhe sigo pra tudo lugar.
Dê-me que quiser,
que lhe dou tudo
que não puder.
Dê-me mais nada,
que sou eu -
quem quer lhe dar.
Texto e poesias de Franz Tagore Artista plástico e Fotógrafo.
UMA NOVA FASE SOBRE A IMAGEM DA ARTE CONTEMPORÂNEA ACRIANA E BRASILEIRA
As visões pictóricas das artistas plásticas Deise Mello e Beth Lins são distintas, porém comungam dum sentido de dupla intenção abstrata.
Dos grafismos indígenas aos centros índicos da liberdade em cores e tons surgem marcas fortes duma nova fase das artes plásticas no estado do Acre.
Beth Lins encontra nas formas naturais da floresta inspiração para suas criações e aprimoramentos plásticos. Os centros predominam nas suas telas, eles são de toda sorte sua principal baliza na busca de um equilíbrio de tonalidades e formas. Lins oferece um mosaico de espirais ambulantes, que ora são frios, que ora são quentes. Ao fitar seus quadros nos envolvemos no drama da energia centralizada. Uma super carga cósmica adentra intimamente nosso pensamento e deixamo-nos
transitar ao sabor de sua armadilha. São os pontos centrais dos seus quadros o perfume da curiosidade que nos faz analisar cuidadosamente os minimalismos impregnados em cada obra.
Deise Mello grafa suas fantasias juvenis no pano que segura agora uma árvore morta. Explosões de sentimentos até então presos se fixam nas sombras acrílicas da sua mais nova coleção de pinturas. Não seria exagero dizer que seus quadros são uma metamorfose. D’alguns casulos na Amazônia ela deve ter extraído as borboletas que estão presas nos seus trabalhos. São cores harmoniosas convivendo entre si e o outrem que as observa. Um luxo da sua imaginação posta em formas visíveis para o público deleitar-se e compreender a sua ousadia e o seu talento nas obras apresentadas. Uma série encantadora, proveitosa para
fazer-se em poesia ou prosa, quem me dera, pois.
Em suma esta exposição apresenta uma forma figurada dum novo horizonte para a arte acriana. Talvez seja tempo para refletirmos um novo ponto de vista sobre a “tradicionalidade” da imagem na arte da pintura. A gosto de quem vive com ela, ou de quem vive dela deverá continuar intenso seu trajeto tradicionalista. Mas, para quem busca o eterno “novo” horizonte sobre a pintura não será a tradicional imagem uma boa base de experiências felizes. Lins e Mello trazem para o tabuleiro
peças fundamentais para o fortalecimento da arte contemporânea no Brasil: - enfrentamento ao ‘retratismo’ da realidade e a sua
sensibilidade feminina sobre o abstracionismo da própria imagem da arte.
Num mundo abatido pelo tédio do ‘mesmismo’ brotam casulos gráficos e grafismos em espirais ‘poliespontaneos’ da imaginária de duas inteligentes mulheres no interior da Amazônia ocidental. Quiçá ganhem os grandes centros desta nação em turnê com suas inquietantes invenções. Por aqui vão deixando suas marcas que serão profundas em nossas memórias.
Fragmentos
Do traço
no espaço
faço pedaço
Da lua
da rua
da pele nua
da carne tua
Com sol
com vento
com sal
com sentimento
L
I
B
E
Me R
Vejo D
Preso A
Nos dias, D
Nas horas, E
Nos meses e
Anos. Premido
Entre as paredes
Desta grande casa,
De onde canto triste,
Donde choro no canto.
Desde pequeno no berço
Fui enjaulado, bem-criado?
Liberdade não
Conheço, não
tenho no peito
para te anotar
liberdade não
mereço, pois,
não sei usar,
alvedrio não,
vivo reprimido
não sei voejar
Estrada Vazia
Uma vida por dentro
Que só sinto quando sento
Aquieto-me compenetrado
Afadigado e sem fôlego
Um fogo me queima
Qual leite da morte
Vinho tinto de amante
Grosseira voz de carrasco
Suicídio num penhasco
Palhaço com cara feia
Triste dia de chacina
Cocaína que corre nas veias
Dum talentoso empresário,
Mas, os talentosos são
Os primeiros a si pintarem
Quando o apito misterioso
Os chama, seus espíritos
inflamam-se, se derramam
No corpo desnudo
Um barulho miúdo faz terror
No ouvido do cético cego.
Uma vida por perto
Qual minh'alma ignora
É história de estrada vazia
Vazo inquebrantável da memória.
Na Gaiola
A grande gaiola da sociedade
armadilha para os poetas
prisão dos pensadores,
recinto de intimidação.
Qual chance eu tenho de sai ileso?
Já me chamam de louco,
paranóico,
pois bem, sou louco,
frenético, mas
sou livre.
Não me interessam
as iscas mórbidas
e as falsas promessas
e a fama,
estou com os pés na lama
fria
sou árvore que cresce,
pequena fagulha de poesia,
sou teatro encoberto,
conto de tolo,
fora da gaiola, da grande gaiola
donde muitos estão presos,
por dinheiro, por status
estou só, sem nome, mas livre.
Texto de Janaína Figueiredo
"A Percepção da artista plástica Elizabeth Lins revela a sua Alma Secreta na aquarela de cores que respingam nos Fragmentos de um sonho a Pajelança latejante do Fogo da Terra. A Rosa do sertão desabrocha o Verde que te quero muito e inunda a imensidão do mar com o Azul Cristal resplandecente do firmamento onde brilham as estrelas. Sou poeta e não sabia".
Poesias de Maria Cecília Pereira Ugalde
O Retrato do Olhar
Pousou distante na roseira do jardim
Por entre os lábios o sorriso a brilhar,
Fusão de rosa em contraste de marfim
Como janelas que buscavam o luar.
E nas janelas via-se a alma presa,
A sufocar o grito “liberdade,” que jazia
No semblante a presença da incerteza
O clamor que não clamou alguém ouvia.
A distancia entre o almejado se alargou.
Timidamente evocou desejos seus...
E como onda no horizonte se encrespou
Perscrutando a alma que ali emudeceu.
Era menina, inda com laços de fita
Que segurava o botão de rosa flor
Só nas janelas existia assim... aflita
Como a espera do esperado grande amor.
Concreto/Abstrato
Me fiz metade rocha,
À resistir terremotos,
O tempo que nada espera...
Lembranças que ficam
No mapa da memória...
Dias, esperanças de glória.
Tudo que amei, hoje distante
Amanhã inexistente...
Levanta-te! Es pedra...
A outra, leveza.
Porque meu espírito
Vai flutuar um dia,
No infinito da morte.
Aí, sim. Estarei branca e sorrirei
Como um milhão de estrelas
A navegar pelo universo
De minhas canções.
Poesias de Marcos Jorge
Aconteceu num verão
Era verão naquele Arraial
E nossos corpos dourados
Curtidos de sol e sal
Amaram-se sobre a areia escaldante.
Éramos jovens
E felizes
Num verão que jamais se viu igual
Naquele pequeno Arraial.
círculo
Sou escravo da hora que divide o tempo
e me rebelo
fico solto num tempo que não tem referencial
e me perco
no vazio da fuga que nunca
é a ideal
O ideal é um referencial que nunca encontro
e volto a ser o mesmo
Escravo da hora que divide o tempo
no afã por me rebelar.
Poesias de Márcio Bezerra da Costa
Posse
A Josiane, minha esposa/meu amor
Não tenho palavras perfeitas
palavras suspeitas estas referências
ao acaso, ao amor e saio
como quem entra ao universo
e escreve um verso único-tesouro
e quer preservá-lo
nas palmas sulcadas das mãos
Josiane
A Josiane Costa, minha esposa/meu amor
Não tenho certeza, o que não existe
compungi-me, dói-me os olhos
a paisagem de vidro, a grandeza do nada,
a voz que silencia uma manhã
e sobrepuja a esfera do luar.
Te persegui, anjo do sonho
a criatura sobrevoante das horas
e dos sorrisos, digo-te o nome
JOSIANE, nada além de um nome
palavra de letras contadas
signos que descem dos olhos com as lágrimas.
Estamos no que não existe
há muito dormistes, há muito morrestes
para o óbvio, para o incerto, mas resistes
na vibração oculta de um peito,
no ocioso fragmento de um sonho.
Poesias de Naylor
O Movimento da Alma (para exposição Poesia das Formas)
Brincando de fazer arte -
Poemas, formas, estéticas, texturas, cores e ângulos -, a sofrida e bela vida plural afastou, por alguns raros minutos, a infernal, a sepulcral, solidão dos homens...
Depois, as artes, agora todas juntas, dançaram e cantaram, passaram por debaixo do arco-íris, nadaram no rio das lendas e dos mitos, foram serpentes que voam e águias que rastejam e, num estranho baile do imaginário popular, que eleva os espíritos rebeldes, subiram aos céus do inconsciente coletivo, mas não tiraram seus pés do chão...
O Ritmo
Toda manhã homens cantam e flores se levantam
Todo instante bocas oram e corpos se enamoram
Todo momento
Idéias voam e cérebros se atordoam
O Encontro da Paralelas
Depois que a lua desapareceu na noite
E os tambores ficaram silenciosos
Teu sangue não mais correu nas minhas veias
E meu coração deixou de bater no teu peito
Depois que os laços afetivos se separaram
E as antenas televisivas roubaram à cena
Os homens de negócios proliferaram
E ninguém mais brincou de inocência
Depois que os corpos dos amantes se separaram
E as bocas, ainda úmidas, perderam a linguagem da carne
O pretenso poeta virou um notívago peranbulando
Enquanto as paralelas se encontram
Atração Fatal
Não foi um beijo no sol
Que me fez arder na lua
E te amava andando numa rua
Onde não morava o ódio
Nem foram teus olhos de fera
Me fotografando inteiro
Nem os gestos verdadeiros
Que habitam os vultos raros
Foi o teu esgar, teu gemido de fera, teu cheiro moreno
Exalando ao vento norte
Tangendo as sombras da morte
Trazendo de volta o sossego...
Antes da Lua chegar
Sem tempo suficiente a vida me come aos pedaços
Do que sobra, eu juntos os farelos, as migalhas
E as engulo, todas, de uma única vez
Andava vazio, uma veia aberta, a morte já certa, a alma tremia
Você toda incerta iluminou meu caminho, tirou os espinhos,
me trouxe sossego
Agora a morte em mim não mata nada, a não ser o velho e cansado corpo
Ela, de mim não leva nada, a não ser o morto...
Poesias de Nilda Dantas
Resistência
Meu pensamento penetra silenciosamente
Por entre teus seres,
Quando quase todos já dormem,
Cansados por conservar parte de ti,
Que mantém virgem
Contra a tua vontade.
Mutilam tuas vestes,
Provocam gemidos e lágrimas verdes,
E do teu seio ouço o eco da vida.
É assustador ver as formas feias e despidas
Que retratam a crueldade do que fazem contigo.
Resiste, mostra o teu poder,
Pune-os...
Faz germinar os teus que se foram.
Agosto
Voltei hoje ao nosso altar!
Onde estão guardados
Os vestígios do nosso acasalamento.
E entre as pedras
A s flores do campo
Acordaram em festa
Sugando a seiva da fecundação.
A cachoeira chorou
Quando me viu só.
Misteriosamente,
Um canto nostálgico
Penetrou meu ventre ainda úmido,
Que guarda as sementes
Do que eu quero de ti.
Textos e poesias de Ocimar Leitão
Poesia das formas
O ato criador se manifesta na Poesia das Formas,
seja através da escrita,
seja no delinear do pincel, dos dedos....
Poesias escrita em cores, traços fortes,
em curvas, em retas.
No princípio, a tela estendida, a página em branco,
o silêncio....
e no silêncio nasce,
o desejo de expressar o mundo vivido.
O poeta das formas cria imagens para leitura livre, a experiência afetiva.
O sol de batelão
O sol de Santa Rosa é vermelho em matizes.
Tem molduras de floresta,
e cintila no Grande Rio cor de barro.
O sol de Santa Rosa tem muitas faces
E muda nas voltas do Grande Rio cor de Barro.
O sol reflete n’água as cores de tantas vidas,
Em horas infinitas na proa do batelão, ouvindo causos e vendo índios e brancos observando o tempo passar junto às águas incessantes.
O sol de Santa Rosa tem picada de pium para queimar e doer, tem rede para cochilar, barulho de motor e trocas de olhares entre estranhos passageiros na mesma viagem infinita.
No sol de Santa Rosa tem tapioca, peixe, mel, banana e camaradagem.
O sol de Santa Rosa tem o Purus, Grande Rio de Águas cor de barro.
Santa Rosa do Purus, 23 de Abril de 2008
Para Euclides da Cunha
Poema para lê em movimento
Escrevo poemas sem rima, sem ritmo, sem rumo certo.
Escrevo palavras soltas, independentes, solteiras.
Escrevo para compartilhar minhas angústias e medos.
Na verdade, adoro poemas ritmados, apaixonados, dolorosos, mas é preciso se desprender, posto que o tempo é outro, e preciso expressar o tempo vivido.
Tempo entrecortado,
tenso,
dinâmico,
ritmado,
rápido,
móvel,
inconstante,
elétrico,
em reticências....
nesse mundo, cuja fluidez das formas, ainda não se inventou palavras. Talvez a luz, o som, possa expressar melhor.
Brevíssima poesia de amor
Quando a chuva cai, lembro de você.
Quando ouço aquela música, lembro de você.
Portanto, você está longe e perto de mim.
Brevíssima poesia
Quando a chuva cai, lembro de você.
Quando ouso aquela música, lembro de você.
Portanto, você está longe e perto de mim.
Ocimar Leitão
Dia que o sol apagou
Oh! Homem!
O que tu fizeste com a terra?
Que bicho é esse que destrói a própria casa?
Hoje a fumaça ofuscou o sol e mesmo assim o sol teimou em sair.
Hoje a fumaça enevoou a cidade e se impregnou em mim.
Que bicho é esse que destrói a própria casa?
Que bicho é esse que consome futilidade e as troca com mesma felicidade que as adquiriu?
Que bicho voraz é esse que traga a terra como vulcão?
Que bicho é esse?
Que acredita em um mundo igualitário e consome a própria casa para ostentar poder e vaidade?
Loucos poetas
Existe uma linha tênue entres os sãos e os loucos,
E no centro deste espaço mundo, vivem os poetas, um tanto sãos, um tanto loucos, mas, sobretudo inquietos.
Sempre livres para traduzir lampejos, devaneios em palavras escritas.
Os poetas são simples humanos a traduzirem seu mundo.
Esse mundo povoado de imagens, onde a rosa se apaixona pelo cravo.
Onde o menino conversa com a lua.
Onde as mãos, Não são as mãos. São metáforas. Maestro a reger o universo.
Esse espaço mundo é povoado por imagens, formas, cores, seres inimagináveis.
Espaço de um tempo outro. Lá, a sinfonia dura para sempre.
E o sempre é breve e pode acabar agora. (que profundidade! Lindo!)
Palavras soltas, mas nem tanto
Quando me deparo com uma página limpa, tremo frente à imensidão. Trôpego. Palavra a palavra ladrinho o caminho aonde pretendo chegar.
Poesia de Raimundo Nonato
Neiva Nara
Neiva de nuvem suave
Nara de pedra rara
Nuvem linda em que viajo
Seiva que me sustentara
Suavidade das águas
Simplicidade da relva
A beleza das araras
Nativa índia amazônica
Beleza ímpar, harmônica
Enigma do Saara
Vertente, vertendo versos
Fluindo fluentemente
Nas calmas águas correntes
Na fluidez das nascentes
Palavras doces e raras
Vendo-te, vertendo versos
Semeando este deserto
Quem, decerto
Não te amara
Poetar é tua sina
Doce, mimosa menina
Poema que me fascina
Meiga e bela
Neiva Nara
Poesias de Renã Leite Pontes (Da Academia dos Poetas Acreanos)
Equilíbrio
Todo equilíbrio (e nobreza),
que no bom Cristão é visto.
brotou, com toda certeza,
do Sacrifício de Cristo.
Austeríssimo Titã II
De ditador tirano e de palhaço,
pintei meu manequim para a “vitória”...
por décadas contei a mesma história.
usei luvas de seda em mãos de aço.
Me promovi com grande estardalhaço.
e usando a ajuda de uma turba escória,
trai dos meus amigos a memória,
me coligando aos abutres do paço.
“Com pedras de ilusões fiz meus castelos”...
trancafiei debaldes sonhos belos
no cofre da paixão por rendimentos.
Ousei parar no céu o sol poente.
lancei migalhas para os quatro ventos,
sepultando a grandeza de uma gente.
Renã Leite Pontes
O Medo
Lá fora, eles,
Na cinética patológica das ruas
Da infeliz cidade,
O medo:
Do roubo, do atraso, da gripe... do medo.
Cá dentro, eu,
Na estática faustosa do claustro
Da infelicidade,
O medo:
Do outro!...
O que eu penso de ti
O que eu penso de ti, Acre querida.
a ideia que de ti guardo na mente,
longe vai de lembrar coisa carente,
mas, verdes prados a sobejar vida.
Folga orgulhar-me de te ver crescida,
do teu legado histórico valente,
deste teu povo, nunca inconsequente,
que se sujeita com calor à lida.
Terra tomada por luta constante
de gente humilde que se ergueu gigante...
mas não declaro fácil teu amor.
Terra de ar puro, a minha joia rara,
faltava o brilho teu, colosso, para
o Mundo se curvar ao teu Valor.
Vida e Morte Chico Mendes
Dedicado, com carinho e respeito,à memória do Mártir e Líder Seringueiro Chico Mendes.
O Chico na mata lá vai toque toque...
sensato, rebelde e amigo... Ele é pai!
levando a poronga e faca 1 ele vai...
defende a floresta de balde a reboque.
Defesa da mata é motivo de choque,
qual choque de frio da chuva que cai.
jurado de morte, pra luta ele sai
pedindo a justiça que o mal não lhe toque...
Quem sabe se a mata ficar bem cuidada
não para esta raiva do rude inimigo
que quer toda a mata refém da boiada.
Cilada composta de grande perigo:
tão moço seu Chico tombou de emboscada
com tiro que pega do peito ao umbigo.
Que é sofrer?
Nascer plebeu, na mesquinhez terrena.
ficar ao ir-se... e, em corpo adolescente,
dormir no leito da famosa Helena
e não poder amá-la plenamente.
Perder os sonhos todos, de repente,
pra ficar com alguém por sentir pena...
olhar nos olhos da divina Atena
e ter a alma presa eternamente.
Tornar-se o frágil escravo de um sorriso,
qual anjo que fugiu do paraíso
porque sonhou com o dia da viagem,
Quando amou a nudez de uma mulher,
“Solamente una vez”... também sofrer
é levar o passado na bagagem.
Texto de Tião Maia – Jornalista
O belo que nunca cessa...
Do e sobre o Naylor George há tanta coisa a ser dita, com todas as letras. Mesmo tendo sensibilidade, e ganhando a vida escrevendo, sou ainda quase mudo na escrita, principalmente quando o assunto é poesia - uma arte que rejeita aqueles a quem a beleza da loucura não se fez completa.
Aliás, das invejas que trago no peito, tenho rancor especial pelos poetas.
São deles as frases mais certas.
Dos loucos, só eles são completos.
Dos infelizes, só eles conhecem a dor e o fracasso.
No amor, só eles sabem fazer do sofrimento um puro prazer.
E mesmo assim são felizes. Ou nos convencem disso.
Se eu tivesse um dia que me posicionar contra essa gente, diria que tudo que deve ser feito contra deve ser contra os poetas.
Eles, que são também meio profetas, saberiam entender, até porque, na terra, realizam o bom combate e dormem o sono dos justos.
Mas falava aqui da minha inveja e do rancor que tenho pelos poetas. Do Naylor George, em especial.
Invejo-o, sobretudo, pela arte e pela liberdade com a qual exerce o direito de viver, de dizer e de fazer coisas fantásticas.
O que o leitor encontra nos textos escritos por este “santo mundano” é um exercício pleno de liberdade. De viver, de sofrer, de elogiar, de ser feliz e, acima de tudo, de fazer o seu próximo feliz. Naylor é plural, é coletivo, o nada e o tudo.
Um poeta como o Naylor, que compreende que um poeta não é um homem comum, deve sofrer muito. Sofre com sua dor particular e, sobretudo, com a dor alheia, aquela que dói nos outros e com a qual os poetas são solidários, inclusive espiritualmente e fisicamente. Sofre com seus olhos atentos sobre uma paisagem nem sempre bela como seus sentimentos. Sofre principalmente porque não ser um homem comum é recusar a mediocridade e a cretinice cada vez mais presentes, e crescentes, entre os homens brutos do seu tempo.
Mas este sofredor é feliz. Sua felicidade é plena porque os poetas, grávidos de liberdade, exercitam a vida dizendo coisas belas, amando o próximo, fazendo filhos, lançando boas sementes, escrevendo livros, semeando a contestação e o amor entre os homens tolos.
Só por estas e outras, amigo Naylor George, a vida perto de você já valeria a pena. Vá em frente leitor, os textos deste necessário poeta acreano nos refrigera a alma.
Vá em frente, meu poetas preferido, meu amigo...
Dia Ideal
Hoje é dia de contar as roseiras,
De brincar de esconde-esconde
De correr sobre os montes,
De fantasiar o horizonte.
De montar uma cabana no meio da selva,
Recitar os mais belos versos ao vento,
Madrugar contando estrelas,
Prosar na sexta-feira.
Tomar água na fonte,
Olhar o sertanejo
Dá bom dia às seringueiras,
Acordar de manhã cedo.
Hoje é dia de olhar bem dentro de teus olhos,
Venerando a pupila
Adentrando o cristalino,
Descendo os degraus do teu interior,
Despovoando os teus sentimentos,
Assumindo de uma vez o âmego do teu coração.
A solidão chora saudade
Sacrifícios não quero
Há mil anos te espero
O cansaço me Poe na dança,
O olhar se desfigura no final da tarde
A solidão chora constantemente a saudade.
Extravaso minha tristeza
Ao contemplar este céu de penúria,
Já gastei as solas dos sapatos
Por este trecho passo a passo,
Minhas vestes se desfizeram em pedaços.
Tudo está à vontade!
E eu conseqüentemente pela metade
Sem animo para revidar
Extraído demais para suportar,
Porém esperançoso demais para esperar.
Pois sei que ainda que os dias me envelheçam
A eternidade se desgaste
E tudo aconteça
O universo se esvazie,
Eu enlouqueça.
Na loucura de um débil
Serei sonhador,
Claro demais
A essa distância
Que faz a solidão chorar a saudade.
Imaculado
Jamais pensei que fosses crescer em meu peito
Com tanta destreza
Com tanto desvelo,
Com tanta precisão,
Com tanta clareza.
Vivo a cada dia uma linda emoção,
Uma canção de ninar,
Uma chama queimando no peito.
Como é feliz o coração!
A minha vida,
O meu ego,
A minha força
Vibra todas as vezes que a minha sensibilidade expressa o
tom desta cor.
Poesias de Armando Pompermaier
Dois sóis
Sereno é o sonho em teus braços
Suave o toque da tua pele nua
Alegre a tua imagem à primeira luz
ao amanhecer do dia
Triste a despedida
Em meu peito é sempre primavera
E os campos sempre floridos
À luz do sol do teu sorriso
À melodia do canto dos pássaros nas palavras
da tua voz doce
O jasmim dos teus abraços,
Casulos onde meus sentimentos tristes
Se metamorfoseiam em alegres e festivas
Borboletas
Que beijam as rosas dos teus lábios
Enquanto irrompem sóis
Do brilho dos meus olhos
Nem precisaria de asas para voar
O jardim das cores
Ser um homem que planta as cores
que florescem nos perfumes
que dilatam os amores
que nos afagam, que nos unem
As mãos que cultivam as flores
trazem essa beleza dentro de si
agradecem os cantores:
o beija-flor e o bem-te-vi
Quando tu vens, se tu sorrires
é que eu plantei um arco-íris
Rosas vermelhas e jasmins
em meio a todo um colorido sem fim,
trago em meu peito para ti:
abra os seus braços pra mim
Pássaros executam sua sinfonia
borboletas dançam seu balé
como é possível não sentir alegria
se tão bem meu bem me quer
Quando tu vens, se tu sorrires
é que eu plantei um arco-íris
Eu plantei um arco-íris de luz e cor
só pra dar pro meu amor
Armando Pompermaier
Buquê de estrelas
As flores
são estrelas que nascem do chão
no meu quintal nasceram estrelas
em um mar de palavras,
algumas são flores,
algumas são estrelas
em um mar de mulheres,
algumas são flores,
algumas são estrelas
a minha amada é as duas:
uma flor-estrela
vou catar estrelas do mar
de palavras
para dar um buquê
de estrelas
para a mulher que amo
como a expressão
do meu amor sincero
mas o verdadeiro presente
é o meu amor
mais bonito que todas as estrelas
do céu e da terra
Poesias de Beth Lins
Caminhos
Caminhos existem...
Cada passo, cada ato seguem...
Surge um mundo...
Magia, amor, prelúdios,
Tudo é possível,
O Amor caminha a cada instante,
Nada tão real como o próprio sentimento,
Distâncias, desamores...
Nada capaz de destruir os sonhos...
Surge uma vida,
Amor tão puro como o dia.
Caminhos existem...
Cada passo, cada ato seguem...
Lutas, vitórias,
Passados, presentes,
Incertezas, inverdades,
Nada tão profundo como o perdão.
Nasce uma luz
Tão brilhante que reflete e transforma,
O amor caminha lado a lado.
Caminhos existem...
Cada passo cada ato seguem...
Surge um novo amanhecer,
Transformações, sonhos...
Realidade.
Tudo é amor, tudo é vida,
Esperança, paz, felicidade.
Jully Joyce
Luz que a vida concebeu,
Brilhas como estrelas,
Pertences ao mundo
como o mundo te pertence
E estarás eternamente no coração
daqueles que te amam.
Poesias
Na busca... em espaços vazios me deparo com palavras,
São tantas que nem sei como usá-las,
Sentimentos propagam-se e percebo que tudo já está em mim,
Encontro em outros sentimentos alegres e sofridos elas... palavras que já são minhas, mesmos sem encontrá-las primeiro nos pertencemos, porque em cada sentimento preenche todos os meus anseios
que a minha voz calou.
Há! Sonhos, são tantos ainda por encontrá-los ... bastam as palavras que me transporto a eles, elas são mágicas,
mas porque não as disse primeiro!
E nessa sintonia em que a poesia me leva, com a mesma energia que no teu coração nasceu e ocupou o meu,
essas palavras que nos uniu podem ser minhas,
sou poeta e não sabia.
Poesias de Eva Martina Nagl
Debaixo da Mangueira
Você -
com galhos espalhados,
tuas folhas cheias dão
sombra no
calor, calor, calor.
Pássaros cantam
nos teus ramos,
as borboletas
com sua linda coloração
esvoaçam, esvoaçam, esvoaçam.
Exposto na tua frente:
O Rio Paracauary
marrom e barrento
os pescadores passam remando.
Debaixo da mangueira,
com pele molhada
do banho refrescante
frutas frescas,
beijos doces
e debaixo das tuas raízes –
a descida
pro rio, que hoje
levou um menino.
Crepúsculo Ararúna
O vento começou a resfriar
na pele,
nossas sombras se alongaram,
ele deixou de encher tudo –
o sol ardente
aproximou-se ao horizonte.
As nuvens transparentes do dia
começaram a destacar-se
de roxo, amarelo
e alguns de cinza –
na frente do sol desaparecendo.
Há tempo ele se recolheu atrás
das arvores do Igarapé.
Só seus brilhos restaram na
superfície da água.
A lembrança do dia que passou.
Suavemente apareceu o desenho da lua
no céu sombrio.
Com calma ela aguarda
o desaparecer do sol poderoso
pra refletir só de longe
a luz dele em branco.
Todas elas
Chamou-me de diabo
Chamou-me de anjo
e
Chame-me de puta
Chame-me de santa
Sou a que grita e bate
A bruxa que maltrata.
Sou a que sorri e afirma
A princesa penteada.
Sou a que chora e suspira
A moça deixada.
Sou a que pula e canta
A mulher voadora.
Sou a que seduz,
a que se envergonha.
Sou a que bebe,
a que reza.
Sou todas elas,
como não sou nenhuma,
como só queria que fosse.
Chame-me como quiser
Chame-me do meu nome!
Talvez
Talvez
tenha saído tudo,
você sentando
esperando.
Com calma, mas insistente
puxa os pedaços pra fora
que estavam enterrados
bem no fundo,
barrentos e com lama,
podres e fedorentos.
Lanço-os pra fora,
vomito
entre nós.
Aliviada eu contemplo
com você paciente
o que nasceu disso:
Uma flor brotando
com cheiro de rosa.
Saudades da minha terra
Longo, longo
e cada vez mais longo
é o tempo que estou
longe, longe
e cada vez mais longe
da minha terra.
Onde o sol de verão
já se inclinou,
os capins dourados
já foram cortados
e as frutas colhidas.
As florestas verdes
já se coloriram
de amarelo e vermelho.
As pessoas bronzeadas
ainda sorridentes,
preparam-se para o ano
deitar-se no frio
do inverno.
Com saudades
lembro-me dos
cheiros confiados,
abraços familiares,
e risadas com amigos
dentro do meu coração.
Dê-me
Dê-me um sorriso,
que lhe dou uma risada.
Dê-me sua mão,
que lhe dou um abraço.
Dê-me sua atenção,
que lhe dou minha dedicação.
Dê-me um limão,
que lhe planto um pé.
Dê-me um caminho,
que lhe sigo pra tudo lugar.
Dê-me que quiser,
que lhe dou tudo
que não puder.
Dê-me mais nada,
que sou eu -
quem quer lhe dar.
Texto e poesias de Franz Tagore Artista plástico e Fotógrafo.
UMA NOVA FASE SOBRE A IMAGEM DA ARTE CONTEMPORÂNEA ACRIANA E BRASILEIRA
As visões pictóricas das artistas plásticas Deise Mello e Beth Lins são distintas, porém comungam dum sentido de dupla intenção abstrata.
Dos grafismos indígenas aos centros índicos da liberdade em cores e tons surgem marcas fortes duma nova fase das artes plásticas no estado do Acre.
Beth Lins encontra nas formas naturais da floresta inspiração para suas criações e aprimoramentos plásticos. Os centros predominam nas suas telas, eles são de toda sorte sua principal baliza na busca de um equilíbrio de tonalidades e formas. Lins oferece um mosaico de espirais ambulantes, que ora são frios, que ora são quentes. Ao fitar seus quadros nos envolvemos no drama da energia centralizada. Uma super carga cósmica adentra intimamente nosso pensamento e deixamo-nos
transitar ao sabor de sua armadilha. São os pontos centrais dos seus quadros o perfume da curiosidade que nos faz analisar cuidadosamente os minimalismos impregnados em cada obra.
Deise Mello grafa suas fantasias juvenis no pano que segura agora uma árvore morta. Explosões de sentimentos até então presos se fixam nas sombras acrílicas da sua mais nova coleção de pinturas. Não seria exagero dizer que seus quadros são uma metamorfose. D’alguns casulos na Amazônia ela deve ter extraído as borboletas que estão presas nos seus trabalhos. São cores harmoniosas convivendo entre si e o outrem que as observa. Um luxo da sua imaginação posta em formas visíveis para o público deleitar-se e compreender a sua ousadia e o seu talento nas obras apresentadas. Uma série encantadora, proveitosa para
fazer-se em poesia ou prosa, quem me dera, pois.
Em suma esta exposição apresenta uma forma figurada dum novo horizonte para a arte acriana. Talvez seja tempo para refletirmos um novo ponto de vista sobre a “tradicionalidade” da imagem na arte da pintura. A gosto de quem vive com ela, ou de quem vive dela deverá continuar intenso seu trajeto tradicionalista. Mas, para quem busca o eterno “novo” horizonte sobre a pintura não será a tradicional imagem uma boa base de experiências felizes. Lins e Mello trazem para o tabuleiro
peças fundamentais para o fortalecimento da arte contemporânea no Brasil: - enfrentamento ao ‘retratismo’ da realidade e a sua
sensibilidade feminina sobre o abstracionismo da própria imagem da arte.
Num mundo abatido pelo tédio do ‘mesmismo’ brotam casulos gráficos e grafismos em espirais ‘poliespontaneos’ da imaginária de duas inteligentes mulheres no interior da Amazônia ocidental. Quiçá ganhem os grandes centros desta nação em turnê com suas inquietantes invenções. Por aqui vão deixando suas marcas que serão profundas em nossas memórias.
Fragmentos
Do traço
no espaço
faço pedaço
Da lua
da rua
da pele nua
da carne tua
Com sol
com vento
com sal
com sentimento
L
I
B
E
Me R
Vejo D
Preso A
Nos dias, D
Nas horas, E
Nos meses e
Anos. Premido
Entre as paredes
Desta grande casa,
De onde canto triste,
Donde choro no canto.
Desde pequeno no berço
Fui enjaulado, bem-criado?
Liberdade não
Conheço, não
tenho no peito
para te anotar
liberdade não
mereço, pois,
não sei usar,
alvedrio não,
vivo reprimido
não sei voejar
Estrada Vazia
Uma vida por dentro
Que só sinto quando sento
Aquieto-me compenetrado
Afadigado e sem fôlego
Um fogo me queima
Qual leite da morte
Vinho tinto de amante
Grosseira voz de carrasco
Suicídio num penhasco
Palhaço com cara feia
Triste dia de chacina
Cocaína que corre nas veias
Dum talentoso empresário,
Mas, os talentosos são
Os primeiros a si pintarem
Quando o apito misterioso
Os chama, seus espíritos
inflamam-se, se derramam
No corpo desnudo
Um barulho miúdo faz terror
No ouvido do cético cego.
Uma vida por perto
Qual minh'alma ignora
É história de estrada vazia
Vazo inquebrantável da memória.
Na Gaiola
A grande gaiola da sociedade
armadilha para os poetas
prisão dos pensadores,
recinto de intimidação.
Qual chance eu tenho de sai ileso?
Já me chamam de louco,
paranóico,
pois bem, sou louco,
frenético, mas
sou livre.
Não me interessam
as iscas mórbidas
e as falsas promessas
e a fama,
estou com os pés na lama
fria
sou árvore que cresce,
pequena fagulha de poesia,
sou teatro encoberto,
conto de tolo,
fora da gaiola, da grande gaiola
donde muitos estão presos,
por dinheiro, por status
estou só, sem nome, mas livre.
Texto de Janaína Figueiredo
"A Percepção da artista plástica Elizabeth Lins revela a sua Alma Secreta na aquarela de cores que respingam nos Fragmentos de um sonho a Pajelança latejante do Fogo da Terra. A Rosa do sertão desabrocha o Verde que te quero muito e inunda a imensidão do mar com o Azul Cristal resplandecente do firmamento onde brilham as estrelas. Sou poeta e não sabia".
Poesias de Maria Cecília Pereira Ugalde
O Retrato do Olhar
Pousou distante na roseira do jardim
Por entre os lábios o sorriso a brilhar,
Fusão de rosa em contraste de marfim
Como janelas que buscavam o luar.
E nas janelas via-se a alma presa,
A sufocar o grito “liberdade,” que jazia
No semblante a presença da incerteza
O clamor que não clamou alguém ouvia.
A distancia entre o almejado se alargou.
Timidamente evocou desejos seus...
E como onda no horizonte se encrespou
Perscrutando a alma que ali emudeceu.
Era menina, inda com laços de fita
Que segurava o botão de rosa flor
Só nas janelas existia assim... aflita
Como a espera do esperado grande amor.
Concreto/Abstrato
Me fiz metade rocha,
À resistir terremotos,
O tempo que nada espera...
Lembranças que ficam
No mapa da memória...
Dias, esperanças de glória.
Tudo que amei, hoje distante
Amanhã inexistente...
Levanta-te! Es pedra...
A outra, leveza.
Porque meu espírito
Vai flutuar um dia,
No infinito da morte.
Aí, sim. Estarei branca e sorrirei
Como um milhão de estrelas
A navegar pelo universo
De minhas canções.
Poesias de Marcos Jorge
Aconteceu num verão
Era verão naquele Arraial
E nossos corpos dourados
Curtidos de sol e sal
Amaram-se sobre a areia escaldante.
Éramos jovens
E felizes
Num verão que jamais se viu igual
Naquele pequeno Arraial.
círculo
Sou escravo da hora que divide o tempo
e me rebelo
fico solto num tempo que não tem referencial
e me perco
no vazio da fuga que nunca
é a ideal
O ideal é um referencial que nunca encontro
e volto a ser o mesmo
Escravo da hora que divide o tempo
no afã por me rebelar.
Poesias de Márcio Bezerra da Costa
Posse
A Josiane, minha esposa/meu amor
Não tenho palavras perfeitas
palavras suspeitas estas referências
ao acaso, ao amor e saio
como quem entra ao universo
e escreve um verso único-tesouro
e quer preservá-lo
nas palmas sulcadas das mãos
Josiane
A Josiane Costa, minha esposa/meu amor
Não tenho certeza, o que não existe
compungi-me, dói-me os olhos
a paisagem de vidro, a grandeza do nada,
a voz que silencia uma manhã
e sobrepuja a esfera do luar.
Te persegui, anjo do sonho
a criatura sobrevoante das horas
e dos sorrisos, digo-te o nome
JOSIANE, nada além de um nome
palavra de letras contadas
signos que descem dos olhos com as lágrimas.
Estamos no que não existe
há muito dormistes, há muito morrestes
para o óbvio, para o incerto, mas resistes
na vibração oculta de um peito,
no ocioso fragmento de um sonho.
Poesias de Naylor
O Movimento da Alma (para exposição Poesia das Formas)
Brincando de fazer arte -
Poemas, formas, estéticas, texturas, cores e ângulos -, a sofrida e bela vida plural afastou, por alguns raros minutos, a infernal, a sepulcral, solidão dos homens...
Depois, as artes, agora todas juntas, dançaram e cantaram, passaram por debaixo do arco-íris, nadaram no rio das lendas e dos mitos, foram serpentes que voam e águias que rastejam e, num estranho baile do imaginário popular, que eleva os espíritos rebeldes, subiram aos céus do inconsciente coletivo, mas não tiraram seus pés do chão...
O Ritmo
Toda manhã homens cantam e flores se levantam
Todo instante bocas oram e corpos se enamoram
Todo momento
Idéias voam e cérebros se atordoam
O Encontro da Paralelas
Depois que a lua desapareceu na noite
E os tambores ficaram silenciosos
Teu sangue não mais correu nas minhas veias
E meu coração deixou de bater no teu peito
Depois que os laços afetivos se separaram
E as antenas televisivas roubaram à cena
Os homens de negócios proliferaram
E ninguém mais brincou de inocência
Depois que os corpos dos amantes se separaram
E as bocas, ainda úmidas, perderam a linguagem da carne
O pretenso poeta virou um notívago peranbulando
Enquanto as paralelas se encontram
Atração Fatal
Não foi um beijo no sol
Que me fez arder na lua
E te amava andando numa rua
Onde não morava o ódio
Nem foram teus olhos de fera
Me fotografando inteiro
Nem os gestos verdadeiros
Que habitam os vultos raros
Foi o teu esgar, teu gemido de fera, teu cheiro moreno
Exalando ao vento norte
Tangendo as sombras da morte
Trazendo de volta o sossego...
Antes da Lua chegar
Sem tempo suficiente a vida me come aos pedaços
Do que sobra, eu juntos os farelos, as migalhas
E as engulo, todas, de uma única vez
Andava vazio, uma veia aberta, a morte já certa, a alma tremia
Você toda incerta iluminou meu caminho, tirou os espinhos,
me trouxe sossego
Agora a morte em mim não mata nada, a não ser o velho e cansado corpo
Ela, de mim não leva nada, a não ser o morto...
Poesias de Nilda Dantas
Resistência
Meu pensamento penetra silenciosamente
Por entre teus seres,
Quando quase todos já dormem,
Cansados por conservar parte de ti,
Que mantém virgem
Contra a tua vontade.
Mutilam tuas vestes,
Provocam gemidos e lágrimas verdes,
E do teu seio ouço o eco da vida.
É assustador ver as formas feias e despidas
Que retratam a crueldade do que fazem contigo.
Resiste, mostra o teu poder,
Pune-os...
Faz germinar os teus que se foram.
Agosto
Voltei hoje ao nosso altar!
Onde estão guardados
Os vestígios do nosso acasalamento.
E entre as pedras
A s flores do campo
Acordaram em festa
Sugando a seiva da fecundação.
A cachoeira chorou
Quando me viu só.
Misteriosamente,
Um canto nostálgico
Penetrou meu ventre ainda úmido,
Que guarda as sementes
Do que eu quero de ti.
Textos e poesias de Ocimar Leitão
Poesia das formas
O ato criador se manifesta na Poesia das Formas,
seja através da escrita,
seja no delinear do pincel, dos dedos....
Poesias escrita em cores, traços fortes,
em curvas, em retas.
No princípio, a tela estendida, a página em branco,
o silêncio....
e no silêncio nasce,
o desejo de expressar o mundo vivido.
O poeta das formas cria imagens para leitura livre, a experiência afetiva.
O sol de batelão
O sol de Santa Rosa é vermelho em matizes.
Tem molduras de floresta,
e cintila no Grande Rio cor de barro.
O sol de Santa Rosa tem muitas faces
E muda nas voltas do Grande Rio cor de Barro.
O sol reflete n’água as cores de tantas vidas,
Em horas infinitas na proa do batelão, ouvindo causos e vendo índios e brancos observando o tempo passar junto às águas incessantes.
O sol de Santa Rosa tem picada de pium para queimar e doer, tem rede para cochilar, barulho de motor e trocas de olhares entre estranhos passageiros na mesma viagem infinita.
No sol de Santa Rosa tem tapioca, peixe, mel, banana e camaradagem.
O sol de Santa Rosa tem o Purus, Grande Rio de Águas cor de barro.
Santa Rosa do Purus, 23 de Abril de 2008
Para Euclides da Cunha
Poema para lê em movimento
Escrevo poemas sem rima, sem ritmo, sem rumo certo.
Escrevo palavras soltas, independentes, solteiras.
Escrevo para compartilhar minhas angústias e medos.
Na verdade, adoro poemas ritmados, apaixonados, dolorosos, mas é preciso se desprender, posto que o tempo é outro, e preciso expressar o tempo vivido.
Tempo entrecortado,
tenso,
dinâmico,
ritmado,
rápido,
móvel,
inconstante,
elétrico,
em reticências....
nesse mundo, cuja fluidez das formas, ainda não se inventou palavras. Talvez a luz, o som, possa expressar melhor.
Brevíssima poesia de amor
Quando a chuva cai, lembro de você.
Quando ouço aquela música, lembro de você.
Portanto, você está longe e perto de mim.
Brevíssima poesia
Quando a chuva cai, lembro de você.
Quando ouso aquela música, lembro de você.
Portanto, você está longe e perto de mim.
Ocimar Leitão
Dia que o sol apagou
Oh! Homem!
O que tu fizeste com a terra?
Que bicho é esse que destrói a própria casa?
Hoje a fumaça ofuscou o sol e mesmo assim o sol teimou em sair.
Hoje a fumaça enevoou a cidade e se impregnou em mim.
Que bicho é esse que destrói a própria casa?
Que bicho é esse que consome futilidade e as troca com mesma felicidade que as adquiriu?
Que bicho voraz é esse que traga a terra como vulcão?
Que bicho é esse?
Que acredita em um mundo igualitário e consome a própria casa para ostentar poder e vaidade?
Loucos poetas
Existe uma linha tênue entres os sãos e os loucos,
E no centro deste espaço mundo, vivem os poetas, um tanto sãos, um tanto loucos, mas, sobretudo inquietos.
Sempre livres para traduzir lampejos, devaneios em palavras escritas.
Os poetas são simples humanos a traduzirem seu mundo.
Esse mundo povoado de imagens, onde a rosa se apaixona pelo cravo.
Onde o menino conversa com a lua.
Onde as mãos, Não são as mãos. São metáforas. Maestro a reger o universo.
Esse espaço mundo é povoado por imagens, formas, cores, seres inimagináveis.
Espaço de um tempo outro. Lá, a sinfonia dura para sempre.
E o sempre é breve e pode acabar agora. (que profundidade! Lindo!)
Palavras soltas, mas nem tanto
Quando me deparo com uma página limpa, tremo frente à imensidão. Trôpego. Palavra a palavra ladrinho o caminho aonde pretendo chegar.
Poesia de Raimundo Nonato
Neiva Nara
Neiva de nuvem suave
Nara de pedra rara
Nuvem linda em que viajo
Seiva que me sustentara
Suavidade das águas
Simplicidade da relva
A beleza das araras
Nativa índia amazônica
Beleza ímpar, harmônica
Enigma do Saara
Vertente, vertendo versos
Fluindo fluentemente
Nas calmas águas correntes
Na fluidez das nascentes
Palavras doces e raras
Vendo-te, vertendo versos
Semeando este deserto
Quem, decerto
Não te amara
Poetar é tua sina
Doce, mimosa menina
Poema que me fascina
Meiga e bela
Neiva Nara
Poesias de Renã Leite Pontes (Da Academia dos Poetas Acreanos)
Equilíbrio
Todo equilíbrio (e nobreza),
que no bom Cristão é visto.
brotou, com toda certeza,
do Sacrifício de Cristo.
Austeríssimo Titã II
De ditador tirano e de palhaço,
pintei meu manequim para a “vitória”...
por décadas contei a mesma história.
usei luvas de seda em mãos de aço.
Me promovi com grande estardalhaço.
e usando a ajuda de uma turba escória,
trai dos meus amigos a memória,
me coligando aos abutres do paço.
“Com pedras de ilusões fiz meus castelos”...
trancafiei debaldes sonhos belos
no cofre da paixão por rendimentos.
Ousei parar no céu o sol poente.
lancei migalhas para os quatro ventos,
sepultando a grandeza de uma gente.
Renã Leite Pontes
O Medo
Lá fora, eles,
Na cinética patológica das ruas
Da infeliz cidade,
O medo:
Do roubo, do atraso, da gripe... do medo.
Cá dentro, eu,
Na estática faustosa do claustro
Da infelicidade,
O medo:
Do outro!...
O que eu penso de ti
O que eu penso de ti, Acre querida.
a ideia que de ti guardo na mente,
longe vai de lembrar coisa carente,
mas, verdes prados a sobejar vida.
Folga orgulhar-me de te ver crescida,
do teu legado histórico valente,
deste teu povo, nunca inconsequente,
que se sujeita com calor à lida.
Terra tomada por luta constante
de gente humilde que se ergueu gigante...
mas não declaro fácil teu amor.
Terra de ar puro, a minha joia rara,
faltava o brilho teu, colosso, para
o Mundo se curvar ao teu Valor.
Vida e Morte Chico Mendes
Dedicado, com carinho e respeito,à memória do Mártir e Líder Seringueiro Chico Mendes.
O Chico na mata lá vai toque toque...
sensato, rebelde e amigo... Ele é pai!
levando a poronga e faca 1 ele vai...
defende a floresta de balde a reboque.
Defesa da mata é motivo de choque,
qual choque de frio da chuva que cai.
jurado de morte, pra luta ele sai
pedindo a justiça que o mal não lhe toque...
Quem sabe se a mata ficar bem cuidada
não para esta raiva do rude inimigo
que quer toda a mata refém da boiada.
Cilada composta de grande perigo:
tão moço seu Chico tombou de emboscada
com tiro que pega do peito ao umbigo.
Que é sofrer?
Nascer plebeu, na mesquinhez terrena.
ficar ao ir-se... e, em corpo adolescente,
dormir no leito da famosa Helena
e não poder amá-la plenamente.
Perder os sonhos todos, de repente,
pra ficar com alguém por sentir pena...
olhar nos olhos da divina Atena
e ter a alma presa eternamente.
Tornar-se o frágil escravo de um sorriso,
qual anjo que fugiu do paraíso
porque sonhou com o dia da viagem,
Quando amou a nudez de uma mulher,
“Solamente una vez”... também sofrer
é levar o passado na bagagem.
Texto de Tião Maia – Jornalista
O belo que nunca cessa...
Do e sobre o Naylor George há tanta coisa a ser dita, com todas as letras. Mesmo tendo sensibilidade, e ganhando a vida escrevendo, sou ainda quase mudo na escrita, principalmente quando o assunto é poesia - uma arte que rejeita aqueles a quem a beleza da loucura não se fez completa.
Aliás, das invejas que trago no peito, tenho rancor especial pelos poetas.
São deles as frases mais certas.
Dos loucos, só eles são completos.
Dos infelizes, só eles conhecem a dor e o fracasso.
No amor, só eles sabem fazer do sofrimento um puro prazer.
E mesmo assim são felizes. Ou nos convencem disso.
Se eu tivesse um dia que me posicionar contra essa gente, diria que tudo que deve ser feito contra deve ser contra os poetas.
Eles, que são também meio profetas, saberiam entender, até porque, na terra, realizam o bom combate e dormem o sono dos justos.
Mas falava aqui da minha inveja e do rancor que tenho pelos poetas. Do Naylor George, em especial.
Invejo-o, sobretudo, pela arte e pela liberdade com a qual exerce o direito de viver, de dizer e de fazer coisas fantásticas.
O que o leitor encontra nos textos escritos por este “santo mundano” é um exercício pleno de liberdade. De viver, de sofrer, de elogiar, de ser feliz e, acima de tudo, de fazer o seu próximo feliz. Naylor é plural, é coletivo, o nada e o tudo.
Um poeta como o Naylor, que compreende que um poeta não é um homem comum, deve sofrer muito. Sofre com sua dor particular e, sobretudo, com a dor alheia, aquela que dói nos outros e com a qual os poetas são solidários, inclusive espiritualmente e fisicamente. Sofre com seus olhos atentos sobre uma paisagem nem sempre bela como seus sentimentos. Sofre principalmente porque não ser um homem comum é recusar a mediocridade e a cretinice cada vez mais presentes, e crescentes, entre os homens brutos do seu tempo.
Mas este sofredor é feliz. Sua felicidade é plena porque os poetas, grávidos de liberdade, exercitam a vida dizendo coisas belas, amando o próximo, fazendo filhos, lançando boas sementes, escrevendo livros, semeando a contestação e o amor entre os homens tolos.
Só por estas e outras, amigo Naylor George, a vida perto de você já valeria a pena. Vá em frente leitor, os textos deste necessário poeta acreano nos refrigera a alma.
Vá em frente, meu poetas preferido, meu amigo...